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terça-feira, 28 de junho de 2011

Dossiê dos Aloprados: Aloizio Mercadante sai pela tangente

O Ministro foi convidado a falar sobre economia, mas escândalo domina o debate. Apesar da pressão da oposição, Mercadante esquiva-se de perguntas difíceisMercadante no Senado: muito falatório e pouca explicação (J. Freitas/Agência Senado )

Apesar de repetir à exaustão sua disposição em explicar as denúncias em que foi recententemente envolvido, o ministro da Ciência e da Tecnologia, Aloizio Mercadante, está se esquivando das perguntas difíceis em seu depoimento ao Senado. Depois de o próprio Mercadante ter colocado o caso do Dossiê dos Aloprados em debate, a oposição resolveu partir para a ofensiva. O senador Alvaro Dias (PSDB) questionou se o ministro pretendia processar o delator do escândalo, Expedito Veloso, por calúnia, já que negava todas as acusações feitas pelo ex-diretor do Banco do Brasil.
 
Em gravação obtida por VEJA, Expedito diz que Mercadante era o principal arrecadador do dinheiro que pagaria um falso dossiê contra José Serra nas eleições de 2006. O ministro tentou ignorar a pergunta, mas, diante da insistência de Alvaro Dias, respondeu sem responder: "Eu nunca fiz contra a imprensa em toda a minha vida - contra a imprensa ou contra quem me caluniou ou me trouxe prejuízo. Mas posso fazer. Vou aguardar, vou verificar os desobramentos." 
 
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Todo o esforço de Mercadante é para esgotar o assunto no Senado e evitar uma convocação para falar na Câmara, onde enfrentaria um ambiente menos amistoso. Alvaro Dias tentou negociar: propôs que o ministro se comprometesse a ir à Câmara, a uma audiência específica sobre o caso do dossiê. Em troca, o  tucano abriria mão de apresentar requerimentos de convocação da ministra Ideli Salvati, da ex-senadora Serys Slhessarenko e do petista Expedito Veloso, todos ligados ao caso. Mercadante não topou e Dias apresentou os requerimentos. "Querem que eu vá à Câmara para continuar alimentando o assunto", irritou-se o ministro.
 
Mercadante insiste que não há novidades sobre o episódio. “Esses telefonemas que foram obtidos estão no inquérito, não são um fato novo”. O ministro tentou se esquivar das acusações feitas por Expedito Veloso e tratar Orestes Quércia como único alvo da denúncia. Sem responder diretamente à pergunta de Alvaro Dias, voltou a negar ligação com o episódio: “Não teve dinheiro da minha campanha, porque eu jamais autorizaria uma ação dessa natureza.”
 
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) desqualificou a tática do petista de atribuir as novas revelações sobre o caso ao jogo político: "Não há ilação nenhuma. Há uma declaração, um fato", afirmou Aloysio. O tucano perguntou se Mercadante não tivera a curiosidade de saber a origem do dinheiro apreendido com os petistas em São Paulo. O ministro respondeu pela metade: afirmou que sua campanha não tinha 1,7 milhão de reais para comprar o dossiê e que, ao saber que Hamilton Lacerda procurara jornalistas para vender o material contra José Serra, demitiu o assessor. Novamente, o ministro não se comprometeu a falar na Câmara dos Deputados: "Não quero me transformar em um objeto de luta política."
 
Explicações - O ministro é inquirido na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado desde as 11h10. Antes das perguntas, ele falou por trinta minutos sobre o cenário econômico nacional, tema original do convite para a comissão. Ao final da apresentação, no entanto, citou o caso dos aloprados. "Não temo esse debate, acho fundamental que tudo seja esclarecido. Estou inteiramente  à disposição dos senadores para fazer essa discussão”, disse Mercadante.
 
O primeiro a perguntar foi o senador Lindberg Farias (PT-RJ), que levantou a bola para que o ministro falasse sobre "fatos novos" a respeito do escândalos dos aloprados, sobre a relação dele com o ex-governador Orestes Quércia e sobre o envolvimento da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, no esquema do falso dossiê. O diálogo foi uma clara demonstração da atuação ensaiada dos governistas para esgotar no Senado o assunto.
 
Mercadante respondeu dizendo que foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e culpou seu ex-assessor Hamilton Lacerda pelo vazamento do falso dossiê. Segundo o ministro, Hamilton entregou os documentos a jornalistas sem comunicá-lo. O petista negou ter agido em parceria com Quércia contra José Serra na campanha de 2006. "Jamais tive com Quércia uma conversa pessoal de qualquer natureza e muito menos na campanha eleitoral, em que ele era meu adversário", disse Mercadante.
 
O ministro afirmou que a então líder do governo no Senado, Ideli Salvatti, não participou de reunião com ele e com envolvidos na elaboração do dossiê. O petista disse que se encontrou com os aloprados em setembro de 2006 para discutir uma possível defesa contra acusações que o envolveriam no esquema da Máfia das Ambulâncias.
 
Quinze senadores inscreveram-se para falar - a ampla maioria é da base aliada. O líder do PSDB, Alvaro Dias, que havia dito ao site de VEJA que sua bancada só falaria sobre dossiê se a base aliada trouxesse o assunto à pauta, apontou a existência de uma manobra governista para esgotar o assunto no Senado: “Há especulações dando conta que essa reunião foi uma estratégia para esvaziar as ações da oposição na Câmara, especialmente na Comissão de Segurança Pública." 
 
Estratégia governista - A audiência começou pouco depois das 10h30. É a primeira vez que ele fala perante o Congresso desde que VEJA revelou seu protagonismo no esquema do Dossiê dos Aloprados, há duas semanas. Mercadante foi convidado a se apresentar perante a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa. Oficialmente a pauta da audiência é “Economia e competitividade: a importância da inovação”, mas espera-se que o ministro aproveite a tribuna para se explicar diante das recentes denúncias. Ele falará por trinta minutos sobre o cenário econômico nacional e depois responderá às perguntas dos senadores.
 
A oposição, no entanto, está desfalcada para questionar Mercadante. Figuras de peso do Democratas, Demóstenes Torres e José Agripino, integrantes da comissão, não apareceram para a sessão. Os suplentes do DEM nessa comissão também faltaram. O PSDB pretende evitar o confronto direto com o ministro, por entender que o depoimento ao Senado é uma estratégia do governo federal para expor o ministro em um ambiente mais amistoso – Mercadante foi senador desde 2003, antes de se licenciar para assumir o cargo no governo Dilma Rousseff. A oposição quer que ele se explique à Câmara.
 
Denúncias - Reportagem da edição de VEJA da semana passada mostrou o papel do titular da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, na montagem de um falso dossiê contra o então candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra, em 2006. Antes de a farsa ser consumada, ela foi descoberta. Petistas foram presos com 1,7 milhões de reais que seriam usados para pagar os falsários.
 
Um dos aloprados, Expedito Veloso, revelou detalhes do caso em conversas gravadas. Expedito garantiu que o verdadeiro mentor, o principal beneficiário e um dos arrecadadores de dinheiro para montar toda a farsa foi Mercadante. "O plano foi tocado pelo núcleo de inteligência do PT, mas com o conhecimento e a autorização do senador", disse o delator. "Ele era o encarregado de arrecadar parte do dinheiro em São Paulo.”
 
Nesta semana, VEJA denuncia o envolvimento da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, no esquema, que ficou conhecido como Dossiê dos Aloprados. Em setembro de 2006, dias antes da prisão dos petistas, Ideli participou de uma reunião no gabinete de Mercadante com três aloprados para ajustar os detalhes da fraude contra José Serra. Após o encontro começou o trabalho para divulgar o dossiê falso. Ideli ficou com uma cópia do documento, fez contato com jornalistas, exibiu os papeis e disse que aquilo era apenas parte do que tinha contra Serra.  Fonte:VejaOnLine

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